quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Fábula cubana

Publicado em 18/09/10 no jornal Diário de Cuiabá e no site http://www.prosaepolitica.com.br/

Estou desconfiado que Fidel nunca esteve doente. O período de seu sumiço da mídia foi uma invenção para que executasse um plano de conhecer a realidade de vários países. Para isso, ele supostamente fez a barba, se disfarçou de uma aposentada dançarina de tango e saiu para conhecer a realidade além da ilha.

Reza a lenda que primeiramente conheceu as três famílias ricas de Cuba (uma era a dele mesmo), depois conheceu as quatro famílias de classe média e peregrinou para conhecer a classe miserável. Antes disso, ele tentou em vão conhecer a classe pobre, mas o último relato da existência desse estrato social data de 1981.

Depois de Cuba, Fidelita (pseudônimo do disfarce) veio para América do Sul visitar a Venezuela e Bolívia. Nesses países, teve a feliz constatação de que Cuba não estava lá tão ruim e que ambos os países bolivarianos eram bem similares.

O próximo país a ser visitado, seria o Brasil, onde o Sr. Castro queria aproveitar a estada para ter uma audiência com “cumpanheiro” Senhor da Silva, quando comentaria sobre suas aventuras secretas. Como o presidente brasileiro não costumava ficar no próprio país, Fidelita, digo, Fidel, resolveu rumar para a Argentina (o suposto fato ocorreu antes da pré-campanha e campanha eleitorais).

No país do Tango, o ex-ditador cubano pode constatar o que é o progresso. Lá ele achou um país perfeito, ou melhor, quase perfeito, pois achou os argentinos meio petulantes e pedantes (pura implicância de Castro). Segundo está escrito no hipotético diário: nunca imaginei que um país pudesse ser tão maravilhoso e perfeito.

A próxima parada foi no Chile. A aposentada dançarina ficou estupefata ao descobrir o que é realmente era um país de primeiro mundo. Tudo organizado e limpo, pessoas felizes, praças floridas, monumentos o museus inimaginavelmente bem conservados. Foi em Santiago que Fidel teve o primeiro momento de lucidez e se indagou se as questões de ordem político-econômicas seriam o motivo de tanto desenvolvimento. “Deve ser sorte”, concluiu então o longevo ex-presidente.

A próxima parada: o chamado continente mãe. Em visita a um dos países africanos, houve um contra-tempo: um ditador poligâmico africano se apaixonou por Fidelita e a pediu em casamento. Como é proibido negar um pedido do ditador africano, Fidelita teve de fugir às pressas para evitar o mal maior. Mesmo após essa desventura, o cubano ficou feliz em saber que se pode considerar Cuba como um ótimo lugar para se viver, pois não há guerrilha e poucos morrem de fome.

O Velho Continente foi seu próximo passeio. Itália, Espanha, França, Alemanha, Suíça e Suécia. Já no terceiro país, Fidel entrou em depressão profunda, pois ele nunca poderia imaginar que a existência de justiça social e que só há relatos de mazelas sociais nos livros de história antiga desses países. Como resultado dessa traumática constatação, Fidelita voltou a deixar a barba crescer e passou longos meses em prantos na Áustria. Foram vários meses intercalados entre choro e terapia na terra natal de Sigmund Freud, até que ele se refaz emocionalmente e decidiu voltar para a terra natal.

O projeto de conhecer o mundo acabou sendo encurtado pela depressão e angústia. Assim, países como a Rússia, alguns países do Leste Europeu e os Estados Unidos foram abandonados. (Oriente Médio e Oceania não estavam nos planos fidelistas).

Fidelita, agora de volta ao corpo de Fidel, resolveu então “sair do armário”, não no sentido de opção sexual, mas no sentido sócio-político-econômico. Demoraram várias décadas para o cubano perceber que atos governamentais são responsáveis pelo sucesso (ou não) de uma nação. Castro pôde constatar que quanto mais um país tem liberdade econômica e política, e com menor participação do Estado, mais o país é desenvolvido e conta com baixo nível de desigualdade social. Pôde também constatar que o capitalismo não é mais um monstro tão abominável, podendo até permitir a redução da desigualdade social e da miséria em países que optam pela pequena presença do Estado.

Agora nos resta aguardar o desfecho dessa fábula e quem sabe poder em breve, na comemoração do centenário do Sr. Fidel Castro, celebrar a existência de mais uma nação pujante e justa, mesmo com uma história para lá de bizarra e nefasta!

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