quarta-feira, 4 de junho de 2014

Vestirei Preto

Nas proximidades do maior evento futebolístico do Mundo, decidi que deixarei de lado o tradicional verde e amarelo e optei por utilizar a cor preta.

Essa foi a forma que encontrei para demonstrar minha extrema indignação com a falta de compromisso da grande maioria dos políticos, bem como de outros poderes e algumas instituições. Essa será essa a minha forma de protestar, mas sem sabotar o pouco retorno que esse evento poderá trazer para nosso país.

Para alguns essa minha atitude poderá soar como antipatriota, mas não acho patriótico acompanhar com afinco uma modalidade esportiva e desejar (torcer) que o país seja vitorioso, deixando de lado qualquer outro assunto. Patriotismo para mim é ansiar e batalhar por melhores condições na saúde, educação, segurança, infraestrutura e qualidade de vida. Patriotismo é desejar igualdade de oportunidades e justiça, é querer uma contrapartida do Estado proporcional à carga tributária cobrada dos cidadãos. Por essas conquistas eu me disponho a vestir verde e amarelo e “torcer” pelo Brasil.

Se dependesse da minha decisão, não teríamos o mundial de futebol no país. Alguns argumentos favoráveis à realização do evento no país ressaltam que haverá alguns legados que não existiriam sem a realização da competição. Então quer dizer que só conseguimos ou conseguiremos melhorias em aeroportos, construção de alguns viadutos e outras obras mediante a realização da Copa no Brasil? Se não houvesse a competição não precisaríamos ou não conseguiríamos ter nada disso? Francamente! Isso é alguma síndrome de inferioridade com grandes pitadas de incompetência e falta de definição de prioridades.

Por falar em legado, aproveito para uma comparação simplista. Será que existe algum brasileiro disposto a pagar 80 ou 90 mil reais num carro popular? E se este veículo demorasse alguns anos para ser entregue, e quando ocorresse, o veículo não tivesse boa qualidade; e mesmo antes de sair da concessionária já precisasse de reparos. Pior ainda, se o comprador de tal veículo tivesse escassez de recursos financeiros e, optando pelo automóvel, faltasse dinheiro para comprar livros, comida e remédios. Não imagino um só brasileiro em perfeita saúde mental, que optasse por esse negócio. Pois é, para os que defendem os tais legados, a comparação é válida para quase todas obras “da Copa”: custo absurdo, baixa qualidade, prazo extrapolado e falta de recursos em áreas prioritárias.

Quanto ao possível legado turístico, é uma ingenuidade achar que os gringos irão se surpreender positivamente com a deficiência de transporte público, sujeira nas ruas, desorganização no trânsito, deficiência no setor hoteleiro, falta de apoio aos turista, policiamento insuficiente, etc. Ainda bem que os gringos não conhecerão a qualidade de ensino público, o excesso de burocracia, a complexidade das leis trabalhistas, os altos encargos sociais e outras “maravilhas” da terra da jabuticaba.

O futebol está servindo apenas para aperfeiçoar a política do pão e circo, alocando menos pão e destinando para mais circo para a população. Por tudo isso vestirei preto, pois não tenho condições de aplaudir, me divertir e aceitar a bandalheira, falta de prioridade e incompetência governamental.