sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Oportunidades para Cuiabá

Artigo publicado em 15/09/09 no site www.olhardireto.com.br, em 16/09/09 no jornal Folha do Estado.

Cuiabá foi escolhida para ser uma das sub-sedes da Copa de 2014 e estamos concorrendo para transformar a capital de Mato Grosso numa cidade mais próspera, pujante e com melhor qualidade de vida.

Ainda não é hora para festejar, afinal oportunidade nunca foi sinônimo de sucesso garantido. Se Cuiabá ou qualquer outra sub-sede não seguir rigorosamente alguns requisitos estabelecidos pela Fifa, e constantemente avaliados ao longo dos anos que nos separam do grande evento, haverá a possibilidade de ser excluída de sediar a Copa.

Sediar um evento dessa magnitude significa, também, pegar carona para alavancar o desenvolvimento. Barcelona é um exemplo de cidade que aproveitou as Olimpíadas (1992) para promover o turismo e prosperidade da região. De uma cidade pacata e com diversos problemas, passou a ser das cidades mais visitadas e charmosas da Europa.

Não dá para esconder debaixo do tapete os diversos problemas que a capital mato-grossense possui, não só no quesito infra-estrutura, como também na parte de civilidade, sociabilidade, amabilidade e profissionalismo dos anfitriões. Gringos gostam de alegria, aconchego e informalidade, mas não costumam achar graça nenhuma em sujeira, buracos nas ruas, trânsito maluco, transporte público deficiente, violência, etc. Se Cuiabá pretende ser um futuro pólo turístico, teremos que melhorar em muitos aspectos.

A corrida contra o tempo já começou e é de se desejar que a cobiça de alguns políticos, as rivalidades partidárias, os egos ávidos por notoriedade e, é claro, os conchavos contratuais não inviabilizem a realização das obras e a adoção de providências necessárias ao cumprimento do cronograma estabelecido.

Estive recentemente em Curitiba, e por lá ninguém comenta a escolha da cidade para ser uma sub-sede. Não que os curitibanos estejam indiferentes à escolha, mas a capital paranaense já recebe grande visitação de turistas e é considerada uma das mais organizadas do país. A lição de casa já vem sendo feita nas últimas décadas. Curitiba somente necessitará de alguns pequenos ajustes e já estará pronta para receber e agradar os exigentes turistas estrangeiros.

Da nossa parte, só com planejamento, investimentos, organização, seriedade e muito trabalho é que poderemos comemorar a escolha como certa e garantida. Por ora, adiemos a comemoração e trabalhemos.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

♪ A UTOPIA FEDE ♫

Artigo publicado em 10/10/09 no site www.matogrossoonline.com.br, em 17/09/09 no jornal Diário de Cuiabá, em 20/09/09 no jornal Folha do Estado.
A novela do petróleo na camada pré-sal está apenas no início e já há perspectivas de cenas fortes para os próximos capítulos. União, Estados e Municípios estão babando e se digladiando para ver quem consegue abocanhar o maior naco de arrecadação, além disso, a União brada para que o montante seja utilizado para corrigir as injustiças sociais, a Petrobrás quer garantir o seu selo em todos os futuros projetos e por fim, o governo federal quer criar mais uma estatal - a Petrosal (ou Petrossauro, como dizem alguns).

Com relação à arrecadação, a União, os Estados e os Municípios ainda cultivam a velha tradição de que quanto maior a facada no bolso do contribuinte, melhor. No final desse cabo de guerra, todas as partes estarão descontentes e sentindo-se injustiçadas. Afinal, não passa pela cogitação das três esferas o raciocínio lógico de que para haver equilíbrio fiscal, há necessidade de gastos eficientes. Os governos são “um saco sem fundo”. Mal comparando (no caso, é bem comparando), funciona como dar dinheiro para um perdulário, quanto mais se dá, maiores serão os gastos e menor a preocupação com o controle financeiro.

O governo federal ainda esbraveja contra a privatização e quer montar um esquema de estatais controladoras de todo o petróleo nacional e importado. Se esse fosse o caminho correto, os melhores lugares para se viver no mundo seriam o Irã, Iraque, Venezuela, Bolívia e alguns outros países produtores do "ouro negro". Defensores do estado gigante irão dizer que petróleo é "questão de segurança nacional". Isso é ignorar o mundo contemporâneo e acreditar piamente nos velhos e amarelados manuais da esquerda da década de 70.

Mesmo que não se defenda o monopólio, a Petrobrás deve ser remunerada pelos enormes investimentos em pesquisas feitas no pré-sal. Quanto à obrigatoriedade de a companhia estar em todos os projetos de prospecção, isso não passa da perpetuação de monopólio - prática altamente prejudicial para a competição, para economia e para os consumidores.

Se o poeta Cazuza ainda estivesse vivo, provavelmente diria “A utopia fede”. Inchar o Estado, estatizar o petróleo com a desculpa de promover distribuição social é balela. O que fatalmente ocorrerá será a utilização de estatais como moeda de barganha política, cabide de emprego e transporte de altos valores em cuecas de políticos. Não há quem discorde de que seria realmente maravilhosa a transformação social a partir de investimentos nessa área tão desconsiderada ao longo da história política do país. Mas é uma grande utopia considerar que o destino de parte da receita da venda do petróleo da camada pré-sal solucionará as mazelas sociais. Lembremo-nos da extinta CPMF que, ao longo de sua existência, permitiu a continuidade de um dos mais perversos sistemas de saúde. Verbas para investimentos as temos, só falta a vontade política e competência para realizar a sua aplicação correta.

Transformar a Petrobrás ou a futura Pretrosal numa PDVSA está transcendendo a esfera econômica, social e ambiental. Significa uma volta ao antigo tema sobre o tamanho e funções do Estado. Será a volta da velha discussão sobre capitalismo X socialismo, modernidade e desenvolvimento X estagnação, avanço democrático X populismo e empreguismo.