segunda-feira, 1 de março de 2010

Onde está o poder público?

Artigo publicado em 03/03/2010 no site www.midianews.com.br e www.olhardireto.com.br , em 04/03/2010 no jornal Folha do Estado.


Onde não há um poder público sério, correto e realmente atuante, começam os desajustes na sociedade.

Situações que ocorreram na Colômbia, podem ser vistas, em menor grau, no Rio de Janeiro. Onde o poder público se ausentou as diversas favelas se transformaram num estado paralelo. Tudo é controlado, e com regras claras, pelos chefões da criminalidade. Já se notou até a participação de alguns policiais corruptos e de maus políticos nessas organizações.

Na ausência do Estado, alguns cidadãos se acham no direito de tomar conta e ditar suas próprias regras. Esse fato é facilmente notado em discussões de trânsito em nossa cidade e em quase todo o país. Como praticamente inexistem fiscalização e punição, todos se acham no direito de fazer o que bem entendem, com um agravante, o de que nunca há errados nos conflitos.

Experimente pedir para que alguém não estacione nas calçadas, ou mesmo sinalize para alguém que transita na contramão ou que está desrespeitando a faixa de pedestre. Se tiver sorte, será apenas ignorado, mas a reação mais comum é um “cuide da sua vida” ou, ainda, um palavrão seguido de um gesto obsceno.

Diante da ausência parcial ou total do Estado, não é raro ocorrerem desavenças e, por vezes, até agressões físicas. Não se trata apenas de ocorrências no trânsito, mas também de relações entre vizinhos. É comum acontecerem “intempéries” por causa de som alto, de indivíduos furando fila, de conflitos agrários e demais situações, algumas corriqueiras, outras nem tanto. Vários crimes decorrentes de motivações fúteis ou banais poderiam muito bem ser evitados se alguns cidadãos não se achassem os donos da verdade.

A solução de conflitos para alguns é no grito, no braço ou mesmo na bala. E como fica um cidadão correto? Deve sempre sair cabisbaixo e, por vezes, ainda ter que pedir desculpas?

Escrevo esse artigo, porque às vezes me vejo em alguma das situações acima citadas. Recentemente ocorreu o absurdo de eu ter que dar marcha à ré para que um motorista percorresse mais de 10 metros na contramão e pudesse finalizar seu trajeto de forma incorreta e abusiva. Ficamos parados frente à frente numa rua estreita sem poder avançar. Eu na mão correta e o indivíduo na contramão. Pedi que ele para que ele voltasse o percurso, mas o diálogo começou a mudar de tom e achei melhor “me recolher” para não fazer parte das estatísticas dos “crimes por motivos fúteis”.

Difícil é vislumbrar um futuro diferente, já que leis brandas e ausência de controle sobre sua obediência costumam funcionar como estímulo para o desrespeito e, consequentemente, para o aumento de delitos maiores ou menores. O mais triste é que a velha e calejada esperança de que a educação altere as relações sociais parece estar cada vez mais distante, uma vez que muitas escolas vêm se transformando em palco de conflitos e de violência.

Tempos difíceis esses nossos.