terça-feira, 19 de novembro de 2013

Artigo - A POLÊMICA DO VIDEOGAME DE 4ª GERAÇÃO

A POLÊMICA DO VIDEOGAME DE 4ª GERAÇÃO

Nem todos devem ter acompanhado a polêmica referente ao preço de um console de videogame que será lançado em breve no país. O fabricante estabeleceu o preço do equipamento em R$ 3.999,00, valor também conhecido como 4 mil reais.
Além do alto valor e da distância da realidade brasileira, o que gerou falatório é que o mesmo equipamento pode ser comprado no EUA por US$ 399 (algo em torno de 900 reais). Algumas lojas varejistas e até um grande banco nacional ironizaram o alto preço e chegaram a fazer anúncios do que é possível se fazer com o valor cobrado no Brasil. Sites informaram ser mais barato voar para Miami, ficar hospedado, comprar o console e retornar para a terra da alta tributação.
Tributaristas entraram na celeuma e calcularam o preço "justo" com as alíquotas tupiniquins extorsivas, chegando ao valor de R$ 2.500,00. O fabricante do equipamento chegou a divulgar nota sobre o preço e informou, também, estar frustrado com o valor praticado aqui.
Não é meu intuito defender ou criticar o fabricante japonês, mas somente acrescentar que as alíquotas de impostos utilizadas para se estabelecer o preço deste e de outros produtos no país são absurdas. O chamado “Custo Brasil” vai além das famigeradas alíquotas.
A lista é extensa: custo da burocracia alfandegária, custo/morosidade da movimentação portuária, de gorjetas para que haja agilização nos trâmites de importação, de manutenção de uma grande equipe para calcular e recolher os impostos e desembaraçar a complexidade de regras de cada Estado, custo do produto parado na logística deficitária, seguros mais caros, perdas por roubos/desvios, alto custo dos encargos sociais de todos os funcionários necessários para a comercialização no país, morosidade e custo de alguma possível demanda jurídica.    
Provavelmente, devo ter esquecido de acrescentar algo, mas ainda não acabou. Para que seja compensador esse maior custo, riscos e complexidade, o empresário vai querer uma margem de lucro compensadora.
Acabou? Ainda não, pois os varejistas, rede de assistência técnica e fornecedores também passam pela maioria do “Custo Brasil” acima citado e, por consequência, também majoram os preços e também tentarão compensar toda essa trabalheira.
Posso ter convencido alguns sobre a questão do alto preço cobrado no Brasil, mas a realidade dificilmente sairá da boca de um empresário ou executivo: o preço cobrado será o mais alto possível e que seja aceito pelos consumidores. Essa é a verdade “verdadeira”, que faz com que as ponderações acima se tornem secundárias. É a “mão invisível” de Adam Smith estabelecendo o preço dos produtos.
Sendo ainda mais específico: nós brasileiros aceitamos e estamos acostumados a pagar altos preços pelos produtos, se houver um financiamento com alta taxa de juros… melhor ainda.
O pesado Custo Brasil tem enorme influência, mas enquanto não houver concorrência de outros consoles, de importadores independentes (legais e ilegais), e havendo consumidores dispostos a pagar 4 mil num aparelho, o preço continuará nos patamares que  no meu entender são para lá de absurdos. Até que isso ocorra as alíquotas continuam vencendo o jogo, como os personagens dos videogames.

Publicado no jornal Folha do Estado de 26/11/2013