A POLÊMICA DO
VIDEOGAME DE 4ª GERAÇÃO
Nem todos devem ter
acompanhado a polêmica referente ao preço de um console de videogame que será
lançado em breve no país. O fabricante estabeleceu o preço do equipamento em R$ 3.999,00, valor também conhecido como 4 mil reais.
Além do alto valor e da
distância da realidade brasileira, o que gerou falatório é que o mesmo
equipamento pode ser comprado no EUA por US$ 399 (algo em torno de 900 reais).
Algumas lojas varejistas e até um grande banco nacional ironizaram o alto preço
e chegaram a fazer anúncios do que é possível se fazer com o valor cobrado no
Brasil. Sites informaram ser mais barato voar para Miami, ficar hospedado,
comprar o console e retornar para a terra da alta tributação.
Tributaristas entraram na
celeuma e calcularam o preço "justo" com as alíquotas tupiniquins
extorsivas, chegando ao valor de R$ 2.500,00. O fabricante do equipamento
chegou a divulgar nota sobre o preço e informou, também, estar frustrado com o
valor praticado aqui.
Não é meu intuito defender
ou criticar o fabricante japonês, mas somente acrescentar que as alíquotas de
impostos utilizadas para se estabelecer o preço deste e de outros produtos no
país são absurdas. O chamado “Custo Brasil” vai além das famigeradas
alíquotas.
A lista é extensa: custo
da burocracia alfandegária, custo/morosidade da movimentação portuária, de gorjetas
para que haja agilização nos trâmites de importação, de manutenção de uma
grande equipe para calcular e recolher os impostos e desembaraçar a
complexidade de regras de cada Estado, custo do produto parado na
logística deficitária, seguros mais caros, perdas por roubos/desvios, alto
custo dos encargos sociais de todos os funcionários necessários para a comercialização
no país, morosidade e custo de alguma possível demanda jurídica.
Provavelmente, devo ter
esquecido de acrescentar algo, mas ainda não acabou. Para que seja compensador
esse maior custo, riscos e complexidade, o empresário vai querer uma margem
de lucro compensadora.
Acabou? Ainda não, pois os
varejistas, rede de assistência técnica e fornecedores também passam pela
maioria do “Custo Brasil” acima citado e, por consequência, também majoram os
preços
e também tentarão compensar toda essa trabalheira.
Posso ter convencido
alguns sobre a questão do alto preço cobrado no Brasil, mas a realidade
dificilmente sairá da boca de um empresário ou executivo: o preço cobrado será
o mais alto possível e que seja aceito pelos consumidores. Essa é a verdade “verdadeira”,
que faz com que as ponderações acima se tornem secundárias. É a “mão invisível”
de Adam Smith estabelecendo o preço dos produtos.
Sendo ainda mais
específico: nós brasileiros aceitamos e estamos acostumados a pagar altos
preços pelos produtos, se houver um financiamento com alta taxa de juros…
melhor ainda.
O pesado Custo Brasil tem enorme influência,
mas enquanto não houver concorrência de outros consoles, de importadores
independentes (legais e ilegais), e havendo consumidores dispostos a pagar 4
mil num aparelho, o preço continuará nos patamares que no meu entender são para lá de absurdos. Até
que isso ocorra as alíquotas continuam vencendo o jogo, como os personagens dos
videogames.
Publicado no jornal Folha do Estado de 26/11/2013
Publicado no jornal Folha do Estado de 26/11/2013