sábado, 4 de dezembro de 2010

O voo da galinha

Artigo escrito em dezembro de 2010

A galinha é uma ave que só consegue voar por curtos espaços. Em economia costuma-se dizer que voo da galinha é quando um país tem crescimento econômico apenas em curtos períodos de tempo, o que deixa a economia praticamente estagnada no longo prazo. Para que um país tenha substancial crescimento, há necessidade de bons números e também constância.

Nas últimas décadas a economia de nosso país tem se espelhado na galinácea. A edição 980 da revista Exame traz como reportagem de capa “Vinte anos para ficar rico” que, segundo a matéria, será uma janela demográfica pela qual o Brasil está passando, período em que teremos grande parcela de habitantes em idade para trabalhar. Após esse intervalo de tempo haverá aumento considerável de aposentados, bem como redução da faixa etária de zero a 14 anos. Demograficamente estamos numa posição que propicia o crescimento econômico, e caso não seja alcançado, será penoso quando ocorrer o “fechamento” dessa janela de oportunidade.

Economistas já estão acendendo uma luz amarela para as contas do Governo Federal. As despesas estão aumentando e a receita permanece praticamente sem alteração. O Sr. Luiz Ignácio da Silva foi feliz em tirar rapidamente o Brasil da crise mundial via redução de alguns impostos, aumento de benefícios sociais e aumento do número de funcionários públicos. Como conseqüência, houve estímulo ao consumo, mas sem investimentos que pudessem promover melhoria na produtividade. Para que as contas governamentais de receita e despesas fechem, há necessidade de ajustes, e é por isso o desespero em ressuscitar a CPMF e aumentar ainda mais a já alta carga tributária, afinal é mais fácil criar um imposto do que ter que reduzir os gastos.

Costumo dizer que em economia não existem mágicas, por vezes até dá para fazer alguns truques, mas logo a galinha deixará de voar. O aumento dos gastos governamentais funcionou para aquecer a economia, mas ocorre que as medidas anti-crise foram praticamente inchando a máquina governamental e houve poucos gastos em setores que trarão retorno, tais como investimentos em educação e infraestrutura. Alguém até pode lembrar o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que, realmente seria ótimo, mas até agora está mais para um programa de marketing político do que propriamente para obras com planejamento e execução.

Caberá à economista Presidente eleita corrigir a direção e deixar de lado firulas de marketing e focar no que realmente deve ser feito.

O Brasil, desde a implantação do Real, teve vários avanços, mas ainda permanecemos vergonhosamente subdesenvolvidos nos quesitos educação, saneamento, portos, ferrovias, aeroportos, aduanas, burocracia tributária, transporte fluvial, metrôs etc. Esses gargalos precisam ser enfrentados e removidos sem truques mirabolantes, senão dentro de pouco tempo a galinha irá novamente se cansar e virá ao chão para tomar novo fôlego.