terça-feira, 14 de outubro de 2008

Crise no Campo

Artigo publicando no site: www.matogrossoonline.com.br/artigo.php?id=62893


Nosso país vive a chamada crise do campo. Muito se tem noticiado as dificuldades que está passando o setor agrícola no país, soja principalmente. Como a economia de Mato Grosso depende consideravelmente da monocultura de soja, vários políticos, lideres das mais variadas categorias, empresários, comerciantes, industriais e outros tem apoiado o movimento dos agricultores, até mesmo como uma maneira de que a economia do Estado não despenque em declínio.

Está em moda artigos e discursos aclamados e carregados de emoções sobre as dificuldades que se encontram os agricultores. Mas recordando os manuais mais antigos e básicos sobre economia e administração de empresa, diz-se que empresários são pessoas dispostas a correr riscos, e investir seu tempo e dinheiro em algum empreendimento com o objetivo da obtenção de lucro. Correr riscos, significa possibilidade perdas. É essa regra que rege o mundo capitalista e que propiciou diversas inovações, prosperidade e melhoria da condição de vida dos seres humanos.

Vários produtores que se auto proclamam modernos e eficientes, realmente isso pode ser uma verdade se somente for analisado a parte da produção, mas, agricultores são empresários e como tal devem gerir não só a produção, mas também cuidar da logística, projetos de expansão, fluxo de caixa, finanças, perspectivas e projeções futuras, etc. Isso deve permear a administração em todos os setores da economia, e na agricultura não deveria ser diferente. Planejar significa saber a hora de expandir, de ampliar mercado, a hora de investir mais em tecnologia, bem como a hora de enxugar e reduzir atividades para passar pelos solavancos de oscilações do mercado. Essas decisões devem ser baseadas em análises de mercado, e não apenas sob ponto de vista de apaixonados, onde só conseguem enxergar expansão e mais expansão, sob qualquer custo.

Só para ilustrar, já alguns anos atrás, analistas e revistas sobre economia e negócios já sinalizavam para a dificuldade no setor da soja e vislumbravam bons retornos no setor sucro-alcooleiro, fruticultura, agricultura orgânica dentre outros. A informação estava disponível a qualquer um, enquanto isso, alguns empresários ainda apostavam na fórmula de pegar o máximo de empréstimo bancário e expandir ao máximo as áreas plantadas.

Acho descabida a maior parte das reivindicações dos agricultores. Querem que o governo estabeleça preço mínimo para seus produtos é na verdade o estabelecimento de subsídio e controle governamental, prática altamente maléfica para a eficiência do setor e da economia de um país. A prática de subsídio foi inclusive alvo de briga entre produtores brasileiros de algodão, que reivindicaram e ganharam uma batalha judicial junto a OMC (Organização Mundial do Comércio) contra produtores estrangeiros que recebiam pesados subsídios governamentais. Vale lembrar o passado recente em que produtores de álcool recebiam pesados subsídios governamentais que teve como resultado um setor dependente de subsídios. O programa de álcool como combustível quase acabou, e só retornou e com força quando os subsídios acabaram e usineiros improdutivos quebraram ou venderam seus negócios para os mais eficientes.

Outra reivindicação é no quesito logística, realmente o escoamento da produção é onerosa e difícil, mas não era diferente de quando os produtores plantaram, será que esse cenário não foi levado em conta no plantio? Não houve um projeto de negócio? Não fizeram contas? Outra reivindicação é com relação à taxa cambial. Qualquer empresa que tenha influência do mercado externo, é recomendável uma prática comum no mercado financeiro que se chama hedge, que é um tipo de seguro contra oscilações bruscas de taxa de câmbio. Qualquer administrador financeiro tem por obrigação conhecer e analisar esse recurso, e caso a empresa queira economizar e correr altos riscos, que arque com isso.

Ouvi críticas ferrenhas de agricultores mais exaltados ao setor bancário, eles alegam lucros exorbitantes desse setor. Ora, se querem viver num mundo capitalista, lucro não deve ser sinônimo de algo diabólico. Se o setor bancário está vivendo um bom momento, ótimo para eles, garanto que nenhum banqueiro obrigou agricultores a pegar dinheiro emprestado, e nem alteraram o contrato ou a taxa de juros combinadas. Quando agricultores obtiveram bons lucros, nenhum banqueiro ou qualquer empresário de outro setor ficou criticando. Parece que o socialismo ainda permeia muitos pensamentos de empresários, só querem ser capitalistas quando lhe é benéfico. Deixem o setor bancário em paz, com seus bons lucros. O país precisa desse setor forte para poder alavancar o crescimento do país.

Recordo que uns 3 ou 4 anos atrás tive a oportunidade de conhecer um produtor de soja na região de Tangará da Serra. Este senhor foi um dos desbravadores da região e me contou com orgulho as dificuldades que passou até se tornar um grande produtor. Nessa época, ele relatou que até então estava obtendo bons retornos financeiros, mas que já vislumbrava um futuro não muito promissor. Apesar de ter pouco estudo, esse senhor possuía grandes conhecimentos do mercado, e estava atualizado nas notícias políticas e econômicas do país e do mundo. Lembro que ele contou que recusava empréstimos oferecidos por bancários. Ele, como muitos brasileiros com o mínimo de conhecimento, sabia que mesmo sendo oferecidos empréstimos com juros baixos para os padrões brasileiros, era um valor alto se levar em conta realidade de países estáveis. Sendo assim, ele só passava nas agencias bancárias para depositar os bons lucros da época.

Creio que parte do setor agrícola de nosso país necessite de administradores e profissionais competentes, inclusive de bons marketeiros para poder orientar uma melhor maneira de realizar protestos. Impedir um cidadão de transitar seria uma boa forma de ganhar apoio da população? Atear fogo em caras colheitadeiras é uma boa forma de mostrar o drama financeiro que estão passando? Realmente os agricultores deveriam rever seus modos de protestar, o que alguns estão fazendo é somente colocar a população contra eles.

É inegável que o setor agrícola não passa por bons momentos, independente se é culpa das estradas precárias, taxa cambial, incompetência na gestão financeira e estratégica dos empresários ou quaisquer outros problemas deve-se deixar a lei de Darwin atuar na economia, onde somente as empresas mais fortes ou mais adaptadas devem sobreviver, isso sim, faria um setor forte, estável e lucrativo.

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