quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Em Tempo: Brasil na Copa do Mundo

Artigo escrito em agosto de 2006

Estava esperando passar a euforia da Copa do Mundo para analisar esse tema que costuma dominar os diálogos e as emoções na época do campeonato.

Por mais que me esforce, até hoje não consigo compreender o porquê de a grande maioria dos brasileiros se transformar em patriotas somente enquanto o país vai bem nessa competição. Será que amar, cuidar e curtir nosso país depende apenas da vitória de uma única modalidade esportiva?

Outro ponto que não consigo compreender é o fanatismo de muitos, seja pela seleção brasileira, por algum time, partido político ou religião. Acho que o fanatismo torna as pessoas menos críticas e tolerantes sobre outros pontos de vista, não sendo raro usar de truculência para defender sua maneira de pensar.

Voltando à copa do mundo, de quatro em quatro anos fico indignado com a energia que a mídia e a população despendem sobre essa competição. O país pára exclusivamente para debater sobre jogadores, equipes, estratégias de jogo etc. Tenho por convicção que nosso país seria bem melhor estruturado se os eleitores utilizassem ¼ dessa energia para ler e discutir sobre economia, política ou mesmo sobre os candidatos.

Durante os jogos do Brasil, o país fica estagnado numa corrente de emoção coletiva. Até certo ponto não vejo isso como algo tão negativo, afinal os brasileiros são um povo alegre e que gosta de se reunir e festejar. Mas francamente, há situações que são ilógicas e até mesmo imorais. Me recordo de um jogo transmitido às 15 horas. Na parte da manhã, fui a um órgão público e simplesmente não houve expediente. Uma coisa é festa e alegria, outra coisa é preguiça e malandragem.

Não sou um especialista em futebol, mas é lamentável a reação de alguns torcedores brasileiros após a derrota. Gostaria de esclarecer alguns pontos, apesar do Brasil ter uma tradição no futebol e ter bons jogadores, existem outras boas equipes. A seleção brasileira é a única pentacampeã, isto é um feito e tanto, mas nem por isso torna o time invencível. Creio que o Brasil seja mesmo insuperável somente nos quesitos corrupção e impunidade.

Após a derrota, sempre há os analistas que procuram achar um responsável. Torcedores chegaram a queimar uma estátua do Ronaldinho, numa tremenda falta de respeito e educação com um dos melhores jogadores do mundo. E como quase sempre a "culpa" cai sobre o técnico, alguns disseram que a equipe estava cheia de estrelismo, mas vai o Parreira não convocar as estrelas... é capaz dele ser deportado do Brasil. Na minha humilde opinião, não creio que o país tenha "perdido". Um país que está sempre se arrastando, economicamente, conseguir estar à frente de grandes países desenvolvidos é um grande feito. Claro que poderia ser melhor, mas de lições das derrotas é que se consegue melhorar.

Num Brasil de mensalão, sanguessuga e impunidade, parece que a nova seleção do Dunga, ainda ocupa tanto ou mais espaço nas conversas do que a sujeira de parte do Congresso. A impunidade agradece esse desvio de foco.

Sempre que exponho meu ponto de vista crítico sobre o tema, por vezes sou taxado de anti-patriota. Mas, se amar e respeitar o país for esse fanatismo pela seleção e somente quando consegue vitória... então realmente não sou patriota.

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